A última condição humana. Vida e morte. Indiferença.

Sinto-me um verme. Um abjecto. Estou diluído entre o desprezível e o torpe. Nada mais sou do que algo, que nem substância se pode denominar, e no entanto, caminho neste mundo como qualquer um. Sou um deus acorrentado. Sou um ostracizado. Sou um estrangeiro. Diverso de mim mesmo, estou refractado.

Desceste ao fundo dos infernos. Não escapaste à caverna que te foi destinada. Viverás cada vez mais fundo, cada vez mais angustiado e sobretudo, cada vez mais só. Rasgarás a tua carne com as tuas próprias mãos, mas sem o saberes, culparás o outro. Culpar-te-ás. Serás desfeito por ti próprio. És, tristemente, o teu próprio carrasco.

Estou vivo. Ao menos isso posso segredar a todos aqueles que não me consigam ouvir. Talvez porque seja menos do que substância, mas decerto algo conseguirei atingir. Quero a felicidade. A perfeição. No fundo, tudo desejo e sei que nada alcançarei. Sou, mais uma vez, um dejecto da existência levantada por deus criador.

Arrastaste-te brilhantemente ao teu destino informe. Imundo. Serás decepado e serás retalhado em mil pedaços, com uma faca de dois gumes, afiada apenas num lado, e rotunda no outro, para que sintas a dor duas vezes, uma ainda mais funda do que a outra. Assim, saberás e ser-te-á relembrado a tua condição de afundado. Receberás do teu carrasco, tu mesmo, tudo aquilo que necessitas para sobreviver, dor e mente…

Sei que desejarei morrer. Já o sei desde cedo. Desde que adquiri locomoção. O movimento permite-me saber para onde caminho, para aquilo que me está destinado e sobretudo para aquilo que sentirei quando lá chegar. Já não aguento angústias e melancolias. Foi tempo. Foram infâncias e adolescências que mo permitiram. Agora, ainda não sendo velho, sinto-me despido. Sinto-me nu, sinto-me vencido por uma vida pobre e seca. Já nem sei o que sou.

Lá no fundo, naquilo que te criou e embalou durante anos a fio, aquela escuridão que te segurou sobre o abismo em que se tornou a tua vida, é isso que te mantém vivo. Mas, se o teu destino é a escuridão, o silêncio e a morte em si, que restará de ti senão assumires outra vez uma vida em que sempre desejaste não vivê-la? Para ti, morrer será um acto eterno, em que estás condenado a repetir a tua vida imunda. Assim, saberás o que é ser um deus num terra de humanos…

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